A fórmula mágica da motivação
“Para atingir a excelência, você só precisa mudar o seu mindset”. É claro que se eu dissesse essa frase assim: “Ou você muda o seu jeito de pensar ou vai continuar na merda” eu estaria sendo deselegante e não venderia nada, primeiro porque revela algo que não é legal sobre nós, segundo pois, embora esteja na moda títulos literários que contemplam palavrões como chamada principal, ainda assim é um tom pejorativo e desagradável. A frase também sugere que é preciso ser responsável pelas próprias escolhas, e isso dá trabalho, ou seja, não existe sobremesa de graça, sem esforço.
Você deve se lembrar daquela propaganda com a garota Betina que viralizou nas redes sociais com a famosa frase de marketing: “Olá, meu nome é Betina, tenho 22 anos e tenho 1 milhão e 42 mil reais de patrimônio acumulado”, na sequência dessa chamada a jovem milionária ressalta que começou a sua jornada com dezenove anos e um capital de 1.520 reais. A propaganda ainda apela para a curiosidade do ouvinte dizendo que somente a minoria (os diferenciados) não pulariam o vídeo, e esses sim, acessariam o passo a passo para o primeiro milhão.
A Betina e vários outros profetas da vida promissora fazem uso de uma infalível fórmula motivacional que funciona há milhares de anos e que tem como elementos principais o medo e a esperança. Primeiro você insere um elemento amedrontador que pode ser qualquer coisa. No caso citado, quando você se dá conta que uma jovem com 23 anos acumulou 1 milhão e você com 37 anos só acumulou dívidas, o seu “eu interior” imediatamente lhe acusa: Cara, você é um bosta! Então o medo de ficar pobre, endividado e não atingir o sucesso (seja lá qual for o conceito que esses caras usam de sucesso) lhe apavora. Na sequência, o elemento esperança vem como a solução para o seu fracasso: “Eu tenho aqui o passo a passo para você ficar milionário”. E isso se aplica a basicamente todo o aparato motivacional que toma conta dessa enxurrada de modismo que estamos vivendo, afinal qualquer forma de encurtar os obstáculos da vida tá valendo.
O problema dessa fórmula é que ela é rasa e a linha de sucesso é definida a partir de um julgamento superficial de mundo ideal, além de que cada pessoa reage e age de acordo com os seus valores e princípios que são naturalmente diferentes. Sugerir fórmulas ou receitas de autoajuda, portanto, não passa de patifaria motivacional. A única lógica sensata da vida é que se você quer ficar rico você precisa trabalhar muito (o que depende de você) ou ganhar na Mega-Sena (o que não depende de você), e se você não está contente com a sua vida, precisa ter coragem e inteligência para mudar o que não está bom, mesma coisa para o seu casamento, seu emprego e tudo que diz respeito a você.
Os padrões das falácias motivacionais seguem basicamente a mesma premissa do medo junto a esperança, acoplado a uma série de recursos didáticos que criam encantamento por se conectarem com partes mais emocionais do nosso cérebro e, portanto, essas abordagens têm a capacidade de “despertar” em nós uma sensação instantânea de prazer, como se fosse uma injeção de ânimo.
Outro artifício dessa abordagem rasa é que as mensagens quase sempre possuem uma estrutura que requer pouco esforço intelectual, são mais claras para o entendimento do nosso cérebro por extraírem reflexões prontas, já que da perspectiva da ciência humana todo passo a passo se torna um alívio mental.
Essa fórmula mágica motivacional torna as pessoas preguiçosas, sedentas por respostas rápidas para suas angústias, já que seguir uma receita é menos complexo do que criar a receita e supostamente leva ao sucesso com mais velocidade. Mas isso não é verdade. Para todo destino existe um caminho, alguns atalhos são estratégicos, mas não são regras. Para todo conhecimento adquirido existe um processo de conquista, não se pode terceirizar essa parte da vida.